Clareamento dental e inovação nos últimos anos
A tecnologia dos leds específicos para clareamento é simples e barata, permite aplicação de um protocolo seguro totalmente monitorado pelo cirurgião-dentista
1) Nos últimos anos, diversos produtos clareadores e variações da técnica para clareamento em consultório foram propostos. Na sua opinião, qual inovação trouxe maior benefício ao paciente?
Fátima Zanin - Sem nenhuma dúvida, a inovação que propicia um diferencial tanto técnico quanto clínico é o LED (diodo de emissão de luz) e os seus benefícios ao paciente são muitos: a principal é a substituição das fontes térmicas pelas que ativam fotoquimicamente o gel.
A tecnologia dos leds específicos para clareamento é simples e barata, permite aplicação de um protocolo seguro totalmente monitorado pelo cirurgião-dentista. Os diversos equipamentos com leds para o clareamento com bocal que ilumine as 2 arcadas simultaneamente, têm a grande vantagem de não gerar calor. Este é o maior benefício, pois minimiza muito a sensibilidade mantendo a integridade dental. Com os Leds, não existe a propagação de calor pela estrutura dental até a polpa, preservando sua vitalidade.
A luz dos leds atua na superfície, ativando apenas a camada de gel; incrementando a liberação dos agentes clareadores sem calor e em menor tempo, por isso além de manterem a vitalidade pulpar, mantém a lisura da camada de esmalte.
2) Quanto ao uso de fontes de luz para acelerar o processo de degradação do peróxido, quais os cuidados que o profissional deve ter?
Fátima Zanin - Como o maior risco do uso da luz é o aumento de temperatura, em primeiro lugar devemos saber diferenciar as diferentes luzes mais citadas para o clareamento: lasers, leds, halógena. Cada uma tem a sua particularidade, que deve ser respeitada para não levar riscos à saúde dental. É lógico que conhecendo seus mecanismos de ação e emissão, vamos escolher as fontes de luz que não aqueçam os tecidos dentais. E quanto as que têm luzes infravermelhas e aquecem, temos que saber utilizá-las com protocolos que minimizem esse efeito térmico. Temos que conhecer, a área iluminada, distância focal, a irradiância, a colimação, se a luz está concentrada em um único dente ou se a ponteira desfoca o raio para iluminar uma área maior dissipando o calor.
Diferenciar as luzes
Os lasers infravermelhos usados no clareamento estão na faixa de radiação térmica, portanto geram calor e apresentam uma alta penetração nos tecidos dentais, com densidade de potência aumentada, podem chegar até a polpa, transmitindo a ela esse aumento térmico além do seu limite biológico. Daí a importância de sabermos diferenciar o que é um laser e o que é um Led. Os Leds para o clareamento, não têm este risco de penetração, levando calor à polpa; são luzes visíveis, azul ou verde, não tem raios infravermelhos. Existe um grave equívoco quando julgamos todos clareamentos com luz, feitos em consultório, com os mesmos argumentos. Os lasers têm reconhecida aplicação em diversas áreas da odontologia com sucesso e segurança, mas no clareamento os Leds são mais simples, mais baratos que a própria técnica caseira, além de se diferenciar desta pelo tempo total que o produto fica em contato com a superfície do dente, em torno de 45 minutos, o que corresponde a uns 15 dias com a técnica caseira.
3) Atualmente, produtos adicionados ao gel clareador de alta concentração ou associados à técnica são capazes de equilibrar as alterações ocorridas pelo contato dos géis com a superfície do esmalte?
Fátima Zanin - Acho interessante que esses produtos controlem a reposição de minerais, como o processo de remineralização normalmente fornecido pela saliva, mas nem todas as técnicas com protocolo correto provocam alterações importantes na superfície do esmalte, só as que tem ph ácido, ou extrapolam o tempo em contato, ou as que usam fontes de luz que emitem calor.
O peróxido para agir melhor deve ter seu ph alcalino, por isso, a maioria dos géis usados na técnica com luz tem ph acima do ph crítico do esmalte e dentina. O gel que apresenta ph ácido nos minutos iniciais é o que contém peróxido de carbamida, que só ao se quebrar libera peróxido de uréia, vai elevar o ph. Este gel é usado em moldeiras, por várias horas diárias na técnica caseira. Quanto aos géis de alta concentração usados na técnica de consultório, quando ativados por fonte de luz apropriada para clareamento como os leds, não são aquecidos, portanto sua ação na superfície de esmalte é menor até que o gel sozinho, agindo sem luz; isto porque o tempo de ação na superfície do esmalte é muito diminuído. A perda mineral na técnica de clareamento bem relizada é semelhante à perda que ocorre quando ingerimos um copo de 300ml de suco ácido;e a saliva através de processos bioquímicos ( Des - Re),repõe os minerais na superfície de esmalte e dentina.
6) Quanto à possível sensibilidade relatada pós-tratamento clareador, seja de consultório ou caseiro, quais inovações têm sido empregadas com resultado positivo? Quais as perspectivas futuras do clareamento de consultório para reduzir a sensibilidade pós-tratamento e o tempo clínico?
Fátima Zanin - Podemos afirmar que quando aplicamos um protocolo adequado visando a proteção, segurança e manutenção da saúde bucal do paciente, e isto já é possível, conseguimos fazer o procedimento de clareamento fotoassistido no consultório, livre de sensibilidade. Já com a técnica de moldeira não tem como proteger com eficiência a dentina exposta; a sensibilidade vai ocorrer todos os dias nos quais o paciente estiver usando o produto na moldeira, por isso, quando o paciente tiver dentina exposta, só a técnica de consultório pode protegê-lo da sensibilidade dentinária.
O cirurgião-dentista deve saber então que o gel de clareamento não deve tocar a dentina. Existe uma forma simples de reduzir sensibilidade no clareamento de consultório: usando um protocolo clínico que proteja a dentina do contato com o gel clareador. Esta proteção é feita com o vedamento da dentina exposta impedindo a movimentação do fluido tubular responsável pela pressão hidrostática, descrita por Brännström (1992) que pressiona as terminações nervosas distribuídas pela estrutura da dentina e polpa. Quando por alguma falha do vedamento ocorrer sensibilidade, estará relacionada à dor dentinária; cessando o estímulo ela vai diminuindo à medida que ocorre a hidratação e a matriz orgânica volta a se restituir. Essa dor aumenta com luzes que geram calor.
Se após o clareamento, ocorrer sensibilidade em dentes isolados conclui-se que apenas esses dentes tiveram falha no vedamento com as barreiras de proteção. A matriz orgânica se dissolve aumentando a permeabilidade dando sensibilidade de acordo com a intensidade do estímulo, mas a própria saliva com seus processos bioquímicos e géis especiais que ajudam a remineralizar a superfície exposta faz a reconstituição do vedamento orgânico natural. Nestes casos de sensibilidade podemos também usar o laser terapêutico em baixa densidade de potência.
Tempo clínico: o tempo é um aliado, fator necessário e suficiente para que o produto atravesse as camadas de esmalte e dentina, quebrando as moléculas gigantes do pigmento escuro, em moléculas menores que possam refletir os componentes da luz natural nos padrões RGB (Red, Green e Blue), que misturados nos dá a sensação de dentes mais claros. Para fazer essa penetração do esmalte até as camadas mais profundas da dentina, o agente clareador leva em torno de 15 a 20 minutos, tempo que utilizamos em cada uma das 3 trocas do gel durante a sessão de clareamento.
Quanto às perspectivas futuras, mais uma vez, a relação do calor e o tempo, é o fator que mais danos ocasiona ao procedimento. Há muitos anos temos insistido e alertado para que se usem os equipamentos com baixa densidade de energia, mas existe um tabu difícil de quebrar onde sempre “o que tem mais, é o melhor.” Na ciência que prioriza o ser humano, não as técnicas, muito menos os aparelhos ou as vaidades, nós temos que pensar com bom senso, nas células, seres vivos contidos na câmara pulpar e expostas a todo mínimo estímulo. Por isto é que não podemos generalizar o clareamento com luz como uma coisa só, pois cada “luz” ou comprimento de onda tem sua função específica. Assim como os raios do sol tem seus diferentes comprimentos de onda, o infravermelho, que nos aquece, nos anima e nos permite viver; ou o ultravioleta que foto ativa os melanócitos e bronzeia a nossa pele; ou a luz azul dos leds que cura nossos bebês recém nascidos com icterícia, foto ativando a bilirrubina reduzindo-a em pigmentos menores para facilitar a sua excreção pela urina e bile . A interação da luz com diversos substratos, ora sendo absorvida e regulando funções, ora sendo refletida mensurando o espaço, se difundindo ou simplesmente atravessando indelével pelas superfícies com as quais não tem interação, é incontestável. Temos que usar nossa sabedoria para cada vez mais compreendê-la e usá-la de maneira correta e segura.
Entrevista concedida à Revista da APCD